Design de Futuros: uma visão estratégica para negócios

Nos últimos anos, houve um aumento no uso do design para abordar sistemas complexos, assim como o surgimento de práticas fragmentadas — mas sobrepostas — dentro do campo do design. Nesse contexto caótico, pode ser útil definir cada prática. Definir uma prática de design é sobre esclarecer suas intenções. Qual é o propósito final desse design? Quem irá interagir com ele? Como ele será utilizado? As respostas a essas perguntas variam radicalmente de uma disciplina para outra.

Isaac Asimov, renomado autor de ficção científica, introduziu o conceito de “psico-história” em sua série Fundação. Psico-história é uma ciência fictícia que combina história, sociologia e estatística para prever o comportamento futuro de grandes populações. Embora uma ciência como a psico-história não exista na realidade, ela inspira o campo de Futures Design, que utiliza métodos empíricos e qualitativos para explorar e moldar futuros possíveis. Futures Design, ao contrário de prever com precisão como a psico-história, foca em criar cenários plausíveis e desejáveis, capacitando organizações e sociedades a se prepararem e moldarem seus próprios futuros.

Design de Futuros não é ficção científica; ele foca nos futuros preferidos que estão dentro do provável e plausível. Esses futuros contêm referências ao nosso mundo atual para que as pessoas possam se relacionar com o futuro apresentado. Estudos de Futuros envolvem a análise sistemática de futuros possíveis e prováveis. Não se trata de prever o futuro, mas de explorar múltiplos futuros alternativos. Originado durante e após a Segunda Guerra Mundial, este campo evoluiu para incluir várias abordagens, como empírico-positivista, crítico-normativa, cultural-interpretativa, empoderamento-ativista e integrais/transdisciplinares.

Futures Design é extremamente importante para os negócios, ajuda empresas a se prepararem para mudanças e a influenciar o mercado. Facilita a antecipação de megatendências e a adaptação estratégica, como demonstrado pelas Big Techs do Vale do Silício e grandes organizações do setor de energia sustentável.

Desenhar futuros não é sobre resolver problemas, mas sim sobre encontrar problemas e materializá-los em artefatos que geram discussões. Esta abordagem explora futuros alternativos e questiona a quem esses futuros pertencem, servindo à sociedade ao criar provocações que desafiam o status quo. Alguns exemplos incluem “Energy Independent Living” (Filiba, M. et al. 2021. Energy Independent Living), que imagina um futuro desejável para energia e construção em Londres, “Roadmap 2050 Eneropa” (Koolhaas, R., AMO 2010), que visualiza a interdependência energética na Europa, e “Refuge for Resurgence” (Superflux. Refuge for Resurgence), que explora futuros mais igualitários entre espécies.

Abordagens de Futuros no Design

No campo dos Estudos de Futuros e Design de Futuros, diversas abordagens têm sido desenvolvidas e exploradas por acadêmicos e profissionais. Entre elas, destacam-se os modelos empírico-positivista, crítico-normativa, cultural-interpretativa, empoderamento-ativista e integrais/transdisciplinares. Essas abordagens são amplamente discutidas por autores renomados como Wendell Bell, Sohail Inayatullah e Richard Slaughter, cada um contribuindo com perspectivas únicas e metodologias que ajudam a entender e moldar futuros possíveis e desejáveis. A seguir, uma breve descrição de cada uma dessas abordagens:

  • Empírico-Positivista: Surgida nos EUA nos anos 1960, esta abordagem usa dados e evidências para analisar e prever tendências futuras. Foca em métodos quantitativos como estatísticas e modelos matemáticos para identificar padrões baseados em tendências atuais e passadas. É útil onde a coleta e análise de dados são robustas e confiáveis.
  • Crítico-Normativa: Desenvolvida na Europa nos anos 1970, esta abordagem questiona as suposições das previsões baseadas apenas em dados. Ela propõe futuros desejáveis baseados em valores éticos e sociais, buscando mudanças que alinhem as tendências futuras com objetivos sociais e ambientais.
  • Cultural-Interpretativa: Focada em incluir perspectivas de diferentes culturas, esta abordagem usa métodos qualitativos como estudos etnográficos para entender como várias culturas veem e se preparam para o futuro. O objetivo é criar futuros que respeitem e incorporem a diversidade cultural.
  • Empoderamento-Ativista: Surgida na Europa nos anos 1990, esta abordagem foca no empoderamento das comunidades para moldarem seus próprios futuros de forma ativa. Utiliza workshops e debates comunitários para envolver diretamente as pessoas na criação de futuros desejáveis e justos.
  • Integrais/Transdisciplinares: Esta abordagem mais recente integra múltiplas disciplinas e perspectivas, combinando conhecimentos das ciências naturais, sociais e humanas. O objetivo é promover a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento para abordar de forma eficaz os desafios complexos e interconectados do futuro.

Aplicando Futures Design nos Negócios

Para aplicar Estudos de Futuros de forma eficaz em empresas, é necessário transformar o estudo de tendências em uma estratégia clara, com projetos bem desenhados e objetivos definidos. Uma pesquisa conduzida por René Rohrbeck e Jan Oliver Schwarz mostra que empresas que adotam “prospectiva estratégica” são mais capacitadas para influenciar o mercado.

Ferramentas e tecnologias modernas, como Big Data, Business Analytics, e Business Intelligence, tornam o estudo de futuros mais acessível e preciso. A antecipação de cenários futuros permite decisões mais informadas, reduz riscos e aumenta a capacidade de adaptação.

Empresas que investem em Estudos de Futuros estão na vanguarda da inovação, como demonstrado pelos grandes players e líderes em inovação. Estudar e desenhar futuros é essencial para a estratégia de negócios contemporânea, permitindo que as empresas não apenas respondam a mudanças, mas também moldem o futuro de maneira proativa. A implementação dessas práticas pode ser o diferencial que coloca uma organização à frente da concorrência, preparada para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que estão por vir.

Futures Design como modelo de transformação

Ao buscar provocar mudanças de maneira sistemática e ética, é crucial focar em elementos essenciais que guiam cada disciplina. Para um engenheiro, esses elementos podem ser paciência, precisão e colaboração. Para um advogado, talvez honestidade, raciocínio e conhecimento. Cada disciplina ou domínio possui um conjunto único de melhores práticas ou princípios que orientam a melhor forma de atuação. Princípios são inerentemente abstratos, mas imensamente importantes.

Mudança Sistemática e Ética nos Futuros

Entender e aplicar os princípios éticos e sistêmicos é fundamental nos Estudos de Futuros e Design de Futuros. A abordagem de antecipar e moldar futuros envolve muito mais do que apenas projetar cenários; ela requer uma consideração profunda de como essas mudanças impactam a sociedade e o meio ambiente. A seguir, algumas diretrizes para garantir que essas práticas sejam implementadas de maneira ética e sistemática:

  1. Consideração Holística: Abordar os problemas de forma holística, considerando todos os aspectos envolvidos, incluindo sociais, econômicos, ambientais e culturais. Isso garante que as soluções sejam sustentáveis e benéficas para todos os stakeholders.
  2. Transparência e Honestidade: Manter a transparência em todas as etapas do processo e ser honesto sobre as limitações e incertezas das projeções futuras. Isso cria confiança e permite uma discussão aberta e informada sobre os possíveis cenários.
  3. Colaboração Interdisciplinar: Trabalhar em colaboração com especialistas de diferentes disciplinas para garantir que todas as perspectivas sejam consideradas. A diversidade de pensamento enriquece o processo de criação de futuros mais robustos e inclusivos.
  4. Engajamento Comunitário: Incluir as comunidades que serão impactadas pelas mudanças nos processos de design e tomada de decisão. Isso não só aumenta a aceitação das soluções propostas, mas também garante que as necessidades e desejos dessas comunidades sejam atendidos.
  5. Responsabilidade e Sustentabilidade: Adotar uma abordagem responsável que priorize a sustentabilidade a longo prazo sobre ganhos imediatos. Isso envolve pensar nas futuras gerações e no impacto ambiental das decisões tomadas hoje.
  6. Educação e Conscientização: Promover a educação e a conscientização sobre a importância dos Estudos de Futuros e Design de Futuros. Equipar as pessoas com o conhecimento necessário para participar ativamente na construção de futuros desejáveis.

Aplicar esses princípios aos Estudos de Futuros e Design de Futuros não só melhora a qualidade dos cenários criados, mas também assegura que as mudanças promovidas sejam éticas e sustentáveis. Em um mundo onde a pressão pelo crescimento econômico pode levar a decisões míopes, é essencial que os líderes e profissionais adotem uma abordagem mais holística e responsável.

Como funciona na prática?

Para aplicar a metodologia de Futures Design na prática, comece coletando e analisando dados empíricos sobre o mercado atual e tendências emergentes. No curto prazo (1-5 anos), utilize ferramentas de análise de dados, estatísticas e modelos matemáticos para prever mudanças e identificar padrões. Por exemplo, uma empresa de tecnologia pode analisar a crescente demanda por smartphones com inteligência artificial e baterias de longa duração para ajustar seus produtos e estratégias de mercado.

Em seguida, desenvolva cenários futuros considerando valores e objetivos sociais, adotando uma abordagem crítico-normativa. No médio prazo (5-20 anos), imagine futuros onde a tecnologia seja utilizada de forma ética e sustentável. Isso pode incluir a criação de dispositivos móveis feitos de materiais recicláveis e acessíveis a comunidades carentes. Inclua perspectivas culturais, consultando diversas culturas e comunidades para entender como percebem e usam a tecnologia, adaptando os produtos às necessidades culturais específicas.

Por fim, promova o engajamento comunitário e a integração de disciplinas diversas. Organize workshops e debates para envolver diretamente os usuários finais na criação de futuros desejáveis e colabore com especialistas de várias áreas (ciências sociais, naturais, engenharia) para criar uma visão holística do futuro. No longo prazo (20-50 anos), a colaboração interdisciplinar pode ajudar a desenvolver dispositivos tecnologicamente avançados, sustentáveis e culturalmente adaptados, garantindo que a empresa esteja preparada para enfrentar e moldar futuros possíveis de maneira eficaz.

A implementação de práticas de Estudos de Futuros e Design de Futuros pode ser o diferencial que coloca um negócio à frente da concorrência. Preparar-se para os desafios e oportunidades do futuro de forma ética e sistemática permite que as empresas não apenas respondam a mudanças, mas também moldem o futuro de maneira proativa e positiva. Assim, a antecipação de cenários e a criação de futuros preferidos tornam-se ferramentas poderosas para alcançar um desenvolvimento sustentável e inclusivo, garantindo que as decisões de hoje levem a um amanhã melhor para todos.

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